quinta-feira, 3 de maio de 2007

Fanatismo



Minh’alma, de sonhar-te,

anda perdida

Meus olhos andam

cegos de te ver !

Não és sequer a

razão do meu viver,

Pois que tu és já

toda a minha vida !

Não vejo nada assim

enlouquecida ...

Passo no mundo,

meu Amor, a ler

No misterioso livro do teu ser

A mesma história

tantas vezes lida !

"Tudo no mundo é frágil,

tudo passa ...

"Quando me dizem isto,

toda a graça

Duma boca divina

fala em mim !

E, olhos postos em ti,

digo de rastros :

"Ah ! Podem voar mundos,

morrer astros,

Que tu és como Deus :

Princípio e Fim ! ..."



Florbela Espanca



Livro de Soror Saudade (1923)